A menina
pegou a carteira, enfiou os dedos no compartimento secreto e sentiu a chave
fria, pegou-a, apertou na palma da mão e a colocou no bolso onde permaneceu com a mão. Esperou
todo mundo sair.
Então a menina foi para o quarto, abriu a última gaveta, tirou
as roupas do fundo e puxou umas garrafas vazias. Abriu outra gaveta e tirou
mais algumas garrafas, fez isso com todas as gavetas. Pegou uma mochila grande
e foi empilhando delicadamente as garrafas dentro dela. Em seguida foi para a
parte em que as roupas ficam estendidas no guarda-roupa, empurrou-as para o
lado e pegou uma caixinha de metal com um cadeado na frente. Pegou a chave no
bolso e abriu-a. Dentro havia pequenos tesouros da menina. Um papel de bala, uma
pétala seca, um pingente, um guardanapo escrito... a menina se perdeu no tempo
olhando e remexendo naqueles guardados. De repente, como quem sai de um transe,
olhou para a caixa, pegou um pequeno envelope com os dizeres POSTO DE TROCA,
abriu, leu, fechou os olhos e repetiu pra si mesma o endereço contido no papel.
Pôs de volta no envelope, o envelope na caixa e trancou. Empurrou para o fundo
do guarda-roupa, arrumou os cabides tampando a caixa.
Pegou um banco e subiu ao lado do guarda-roupa, na ponta do pé esticou a mão e sentiu
uma garrafa vazia. Uma a uma a menina colocou mais algumas garrafas na mochila
e a fechou.
Fez uma
ligação: “Tudo pronto?... Tá, vou sair agora!” Desligou e saiu de casa, foi até
o início de sua rua, virou à esquerda.
Mais umas ruas à frente um menino
esperava na esquina. Quando ela se aproximou puseram-se a caminhar lado a lado.
Em silêncio eles continuaram caminhando por algum tempo. Até que o menino mostrou
a palma da mão com alguma coisa escrita: “Era isso?”. “Sim”, respondeu a
menina. “Igual o meu!”. Continuaram.
Andaram muito, muito, muito, muito.
Chegaram a uma rua impossível de descrever. “É aqui mesmo?” perguntou o menino.
Ela afirmou com a cabeça e foram andando. Há alguns minutos mais à frente, o
garoto viu o local que eles vieram encontrar aumentando e se aproximando a cada
passo. Era ali! Não restavam dúvidas. Eles viraram
de frente para a grande construção hesitantes por alguns segundos. Depois
respiraram fundo e subiram os três degraus até a entrada. Passaram pela porta e
pararam frente ao balcão.
O menino, que era mais alto, tocou a campainha. O tilintar
se espalhou no meio de todo aquele calmo silêncio. Não demorou muito apareceu
um senhor bem velhinho por detrás do balcão. Ele tinha a cara simpática de quem
vende as mais deliciosas balas do universo. Ele sorriu e aguardou. Os dois
amigos tiraram as mochilas, agacharam, abriram-nas e colocaram em cima do
balcão. Enquanto o velho aproximava-se para conferir o conteúdo, a menina foi
explicando: “Disseram que se tomássemos tudo, podíamos vir buscar a felicidade”.
O velho entendeu, olhou para o conteúdo de uma das mochilas, o rótulo nas
garrafas trazia apenas uma palavra: Juízo.
Uma homenagem ao meu amigo Aristeu Jr =)
E você, já tomou juízo hoje?